terça-feira, 15 de junho de 2010

Paulo: aia – 1Tes 2, 7

δυνάμενοι ἐν βάρει εἶναι ὡς Χριστοῦ ἀπόστολοι. ἀλλὰ ἐγενήθημεν νήπιοι ἐν μέσῳ ὑμῶν, ὡς ἐὰν τροφὸς θάλπῃ τὰ ἑαυτῆς τέκνα

Quando nos poderíamos impor como apóstolos de Cristo, fomos, antes, afectuosos no meio de vós, como uma mãe que acalenta os seus filhos quando os alimenta.”

Neste segundo capítulo da primeira carta de Paulo aos Tessalonicenses vemos o à-vontade com que Paulo se dirige a esta comunidade. Esta confiança é acompanhada ainda de um sentimento mútuo de integridade no seguimento do caminho do Senhor. Como muitos especialistas analisam, esta carta não pretenderia transmitir muitos conteúdos aos cristãos em Tessalónica. Pretendeu sim, mostrar uma proximidade e presença espiritual de Paulo junto à comunidade: “ (…) Por eso, en Primera Tesalonicenses, la primera carta que debió de escribir, el apóstol no tiene interés en comunicar grandes novedades, sino en infundir ánimo y responder a las preguntas planteadas, a la luz de la doctrina anteriormente transmitida”.

Neste sentido Paulo apresenta-se ele mesmo como modelo na medida da sua sinceridade e integridade, tal como a dos seus colaboradores. Paulo acredita, e escreve-o, que a sua fé sincera é a chave do seu sucesso. Portanto, também os ministros da Palavra terão tanto mais sucesso quanto Ela tomar vida nas suas próprias vidas. Claro que, como em todos os escritos paulinos, Paulo afirma a primazia de Jesus sobre tudo o seu trabalho, Ele é o verdadeiro centro à volta do qual as comunidades devem gravitar. Neste sentido Paulo defende que a sua autoridade lhe vem de Jesus e logo reclama a paterninade, melhor, a maternidade das comunidades.

Vejamos, porém, que a partir de algumas traduções e lexicos que a palavra grega τροφς significa não uma mãe biológica mas “mãe adoptiva”, uma aia. Portanto esta palavra está impregnada de simbolismo. Este termo remete-nos para uma figura maternal, que não sendo a mãe biológica, alimenta os seus filhos adoptivos como se fossem dela própria. Aliás, se analisarmos racionalmente esta imagem de São Paulo ela é incongruente no sentido em que fala de uma mãe adoptiva (τροφς) que cuida dos seus próprios filhos (νπιοι μν). Neste sentido percebemos que Paulo mostra que na realidade estes “filhos” não são dele mas de Jesus, porém Paulo ama-os como se fossem dele próprio. Esta imagem portanto está impregnada de carinho e de cuidado afectuoso.

Digno de nota é ainda o verbo que descreve esta acção maternal de Paulo no conjuntivo presente activo θλπ. Este verbo literalmente significará “manter aquecido”, como um pássaro mantém quentes os seus ovos.

Reconhecemos, portanto, como Raymond Collins que as imagens usadas por São Paulo são poderosíssimas. Neste caso este autor explica que a palavra νπιοι que Paulo usa para descrever os seus colaboradores será a mais comummente aceite (outros autores chegaram a defender que seria πιοι no sentido em que esta significa “gentios”). Esta palavra portanto destina-se à intensificação da imagem usada por Paulo, pois significa filhinhos ou criancinhas. Neste sentido, igualmente se mostra a proximidade e o conhecimento profundo que a comunidade de Tessalónica e São Paulo partilhavam.

Recordemos, então, que no momento em que Paulo se encontra em Atenas ele lembra-se da comunidade de Tessalónica, temendo o seu enfraquecimento na fé, pelo que lhes dirige esta carta carinhosa. Como bem nos diz Jerome Murphy-O'Connor: “La principal preocupación que tendría Pablo era, sinduda, por los conversos que había dejado atrás en Tesalónica. No había razón para pensar que los cristianos de allí fueran a escapar de la persecución que él mismo había evitado gracias a la huida. No temía que los tesalonicenses fueran a ceder por las presiones físicas de sus vecinos (1Tes 2,14): el verdadero peligro residía en otra circunstancia, bastante más sutil. Pablo conocía el modo de pensar de sus conversos. Estos creían, con cierta ingenuidad, que por su nueva condición quedarían a salvo de la violencia endémica que les había precedido en su anterior condición de pobres obreros. Pablo temía que cundiera la desilusión, que sobreviniera una decepción tan grande como para hacerles renegar de su nueva fe. Si los creyentes de Tesalónica llegaban a sentirse estafados, seguramente todo estaría perdido”.

Algumas fontes a consultar:

SÁNCHEZ BOSCH, Jordi, Escritos paulinos, Editorial Verbo Divino, Estelha 1998, p. 58.

RICHARD, Earl J. First and Second Thessalonians, Sacra Pagina, Minnesota 2007, pp82-83.

COLLINS, Raymond F., The Power of Images in Paul, The Liturgical Press, Minessota 2008, pp. 17-18.

MURPHY-O'CONNOR, Jerome, RIGATO, Maria Luisa , MILITELLO, Cettina, Paulo e as Mulheres, Edições Paulinas, Prior Velho 2009.

MURPHY-O'CONNOR, Jerome, Pablo, su historia, San Pablo, Madrid 2008, pp. 131-132.

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