sexta-feira, 30 de abril de 2010
A justificação pela fé em Gal 3,6-9
quinta-feira, 29 de abril de 2010
sexta-feira, 23 de abril de 2010
EM CRISTO - CRISTO EM MIM
Morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim.
O que é “isto” de viver em Cristo e Cristo em mim ?
Só os cristãos podem saber e todos o podem saber…
Relendo pequenos textos de alguns daqueles que, bem no concreto da vida, souberam o que é viver em Cristo e nos disseram, de mil modos, o que é a incrível experiência do “em mim”, reparei no que ainda não tinha percebido, ou, pelo menos, não tinha percebido de uma forma tão clara:
Paulo é seu companheiro de viagem...
Citam-no constantemente, manifestando aquele desejo ardente de também se deixarem incendiar pela voragem do nada, do aniquilamento total.
Deixarem-se dissolver, diante da Majestade de Deus, como neve debaixo do Sol.
Mergulhar até à morte, no abismo da fé e no absoluto de Deus em Jesus Cristo.
Partilho alguns desses textos:
Diz São Paulo(Cl2,3)do mesmo Cristo:
em Cristo moram todos os tesouros
e sabedoria escondidos.
Nos quais a alma não pode entrar
nem pode chegar a eles,
senão passa primeiro pela estreiteza
do padecer
interior e exterior à divina Sabedoria. (…)
S. João da Cruz Poesia
Vejo que Cristo é muito pouco conhecido
dos que se têm por seus amigos.
pois vemo-los andar a buscar n’Ele
seus gostos e consolações,
amando-se muito a si,
mas não as suas amarguras e mortes,
amando-O muito a Ele.(…)
S. João da Cruz Poesia
Jesus minha Vida, meu Bem-Amado, meu Amor, venho-te consolar (…) Ah! Como gostaria de por meio de um grande amor te fazer esquecer todas as ingratidões do mundo.(…)
Que nada, nada, realmente nada, me possa distrair de Ti,(…) Que me abisme em ti, que tudo faça sob teu olhar. Mestre, toma-me, toma-me inteiramente. (…)
Isabel da Trindade “Diário”
Ser totalmente de Deus, entregar-se a Ele e ao seu serviço por amor, é a vocação, não só de alguns eleitos, mas de todo o cristão,(…) homem ou mulher…
Edite Stein “Ser finito e ser eterno”
A corrente mística que atravessa os séculos não é nenhum braço perdido que se separou da oração da Igreja, mas é a sua vida mais íntima. (…) Que seria a oração da Igreja se não fosse a entrega dos grandes amantes a Deus, que é Amor ? a ilimitada entrega de amor a Deus e a doação de Deus a nós,(…) união completa, (…) suprema elevação do coração…
Edite Stein “A oração da Igreja”
O amor de Deus que me enche quero, evidentemente, dá-lo aos outros, antes de tudo aos que me são próximos: marido, família, amigos, habitantes da nossa aldeia.(…)
Uma vez, durante uma longa adoração ao Santíssimo Sacramento, pareceu-me ter captado de tal forma os raios de amor vindos da Hóstia que me senti como que dilatada. Quando vim a mim, como se fazia tarde, precipitei-me para o eléctrico. O cobrador, ao entregar-me o passe, disse-me:’ Muito obrigado, minha senhora!’ Provavelmente fiquei com um ar muito admirado, porque ele acrescentou: ‘pelo que me deu’. Saindo eu de um êxtase, evidentemente não podia ter-lhe dado com o meu sorriso senão Deus, mas como o teria ele sentido?
Camille C. Notas de correspondência
quarta-feira, 21 de abril de 2010
FALA A LOUCURA
"Os mortais têm a meu respeito opiniões díspares e não ignoro o mal que se ouve dizer da loucura, mesmo entre os loucos"
(...)
"Todos me fazem a corte; desde há séculos que gozam dos meus favores e nem um só testemunhou o seu reconhecimento fazendo o elogio da loucura"
(...)
"Não vos vou exigir a atenção com que ouvis os sermões sagrados, mas a que se presta nas feiras aos charlatães, bobos e saltimbancos..."
Estão aqui reunidas algumas passagens avulsas do célebre "Elogio da Loucura", de Erasmo de Roterdão. Mas, como bem sabemos, já S. Paulo fazia o elogio da loucura. Uma loucura 'diferente', é certo, mas com mais pontos de contacto com a loucura erasmiana do que à partida podemos imaginar.
Para termos uma ideia mais aproximada, podemos invocar a fábula "A Cigarra e a Formiga", devidamente 'trabalhada' pelo poeta brasileiro Mário Pederneiras. Nesta fábula, Paulo incarnaria, seguramente... a Dª Cigarra. Nem podia ser de outro modo: Dª Formiga pertence à classe das 'pessoas sérias', com um celeiro sempre muito bem aprovisionado... para si própria, claro. Dª Cigarra, pelo contrário, é aquela pobre coitada que não vale nada para as pessoas sérias; é a pobre infeliz que vive de dar lições de canto e que acaba, irremediavelmente, na miséria.
Ora, Paulo é bem o exemplo do desprezado pelos bem pensantes do seu tempo. Ele sabe que a Cruz que prega é escândalo para os judeus e loucura para os gentios. "Mais tarde te ouviremos..." - não é isso que lhe respondem sarcasticamente os 'cidadãos' de Atenas, quando Paulo lhes fala da ressurreição dos mortos em pleno Areópago? Mas é essa mesma loucura que anima e move o Apóstolo.
Paulo não põe a sua confiança na sabedoria humana, antes na sabedoria de Deus, que é sempre desprezada pelos arrogantes deste mundo. O mesmo acontecerá, uns séculos mais tarde, com S. João de Deus, quando prega a misericórdia de Deus pelas ruas de Granada. Por sinal, até foi internado numa casa de loucos... Claro, nem podia ser de outro modo.
Paulo chocou com Cristo ressuscitado como um carro armadilhado e os estilhaços ainda hoje se fazem sentir.
Todo o ódio de Saúl transformou-se subitamente em amor cristão; um amor desproporcionado, indecente mesmo. E apesar de Lucas apresentar nos "Actos" a história da sua conversão por três vezes (!), ao fim e ao cabo, ninguém sabe o que realmente se passou. Talvez porque a Realidade seja isso mesmo: invisível e inefável.
Mas a partir de então temos o Paulo. Sim, o Paulo.
De rins cingidos com a verdade, vestido com a couraça da justiça e de pés calçados com a prontidão para o anúncio do Evangelho, o escudo da fé, o capacete da salvação e a espada do Espírito, lá vai o nosso S. Paulo pelo mundo fora. A todo este aparato chama ele - imagine-se - 'armadura de Deus' (Ef). Já não estava bom. E a loucura intensifica-se...
Por onde passa, interpela, perturba, sobressalta, ateia fogos de fé e de esperança em Cristo, onde quer que seja, perante quem quer que seja, oportuna e inoportunamente, sofrendo todo o género de perigos, flagelações, prisões, naufrágios, apedrejamentos, trabalhos e duras fadigas, noites sem dormir, fome e sede, jejuns, frio e nudez. Em tudo segue uma política inflexível de 'terra queimada' - não fosse ele o incendiário, o piromaníaco -, só que, ao invés de destruir, constrói.
"De bom grado, portanto, prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Por isso me comprazo nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte." (2 Cor 12, 10).
Fala a Loucura...
terça-feira, 20 de abril de 2010
A CARTA A FILÉMON E A ALEGRIA EM PAULO
Julgo adequado relacionar aqui a alegria de Paulo com o êxito da missão. Alegre porque Filémon, que ele trouxera para os seguidores de Jesus Cristo, é bom, prestável, solícito para os irmãos. Seguro de que, por isso mesmo, Filémon será igualmente bom, prestável e solícito para com Onésimo, também por ele, Paulo, trazido à comunidade dos santos.
E Paulo, velho, prisioneiro, carente, fica alegre por saber isso. É a alegria que nasce da frutificação da Palavra que semeou, pois face a isto as cadeias, os anos, as necessidades, nada valem. Nem as tribulações: é que Paulo é aquele que transborda de alegria no meio de todas as tribulações (2Cor 7,4).
* Cf Bíblia de Jerusalém, Epístola a Filémon, nota j)
segunda-feira, 19 de abril de 2010
2Cor 6, 1-13
Confesso que hoje, na aula, a escutar esta parcela paulina pensei no Papa!
Preparemos da melhor forma a vinda de Pedro com a forte mensagem de Paulo!
Como Paulo é actual...
1E como seus colaboradores, exortamo-vos a não receber em vão a graça de Deus. 2Pois Ele diz:
No tempo favorável, ouvi-te
e, no dia da salvação, vim em teu auxílio.
É este o tempo favorável, é este o dia da salvação.
3Não damos em nada qualquer motivo de escândalo, para que o nosso ministério não seja desacreditado. 4Ao contrário, em tudo nos recomendamos como ministros de Deus, com muita paciência nas tribulações,
nas necessidades e nas angústias,
5nos açoites e nas prisões,
nos tumultos e nas fadigas,
nas vigílias e nos jejuns,
6pela pureza e pela ciência,
pela magnanimidade e pela bondade,
pelo Espírito Santo
e pelo amor sem fingimento,
7pela palavra da verdade
e pelo poder de Deus,
pelas armas ofensivas
e defensivas da justiça;
8na honra e na desonra,
na má e na boa fama;
tidos por impostores
e, no entanto, verdadeiros;
9por desconhecidos
e, no entanto, bem conhecidos;
por agonizantes
e, no entanto, eis-nos com vida;
por condenados
e, no entanto, livres da morte;
10por tristes, nós que estamos sempre alegres;
por pobres, nós que enriquecemos a muitos;
por nada tendo
e, no entanto, tudo possuindo.
11A nossa boca tem-se aberto para vós, ó coríntios; dilatou-se o nosso coração. 12Não é estreito o espaço que tendes em nós; o vosso íntimo é que se estreitou. 13Pagai-nos com a mesma moeda - como a filhos vos falo: dilatai, também vós, o vosso coração.
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Ainda a tradução de agapé
1. Assim, e baseando-me, como outros colegas, nas palavras de Bento XVI na Encíclica Deus caritas est, julgo que a palavra portuguesa que melhor exprime o sentido de agapé é caridade, mesmo considerando que esta é uma palavra "estragada" na contemporaneidade (de todo o modo, acho que muito poucas palavras usadas por nós teologicamente serão acessíveis ao comum das pessoas, por, como esta, estarem "estragadas", ou por simplesmente não pertencerem ao léxico comum das pessoas - esse foi um dos problemas com que me debati neste breve ofício de "tradutor" - e este é o termo que mais se aproxima de agapé, não deixando de ser sensato optar por ele).
2. Poder-se-á ainda usar apenas amor (como de resto fazem quer a tradução de Almeida quer a da Difusora Bíblica, na sua última edição), independentemente da minúscula ou maiúscula (pese embora a maiúscula nos mostre que não se trata de um amor qualquer).
3. Não deixou de me sensibilizar a proposta do professor («amar por amar»), que me fez ainda pensar noutras expressões que complementassem a palavra «amor» - ajudando assim a resolver o problema do uso "indevido" da palavra -, quer as que remetem para a dimensão de gratuidade que implica agapé (como amor gratuito, amor que se dá, amor dado), ou a expressão - ainda não referida quer em aula quer aqui no blog - amor até à morte, usada no sentido de exprimir a radicalidade de agapé, julgando aqui que Paulo terá usado esta expressão rementendo para o amor de Cristo na Cruz. Com esta expressão pretender-se-ia ainda mostrar a total gratuidade do amor, mesmo aos inimigos. Quem morre por amor indubitavelmente amará até os inimigos. «Ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor até à morte, de nada me aproveita.»
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Paráfrase do CÂNTICO DO AMOR
Ainda que eu fale as línguas de todos os povos do mundo inteiro, de todas as etnias, se não tiver AMOR, sou como piano desafinado cujo som fere os ouvidos de quem escuta.
Ainda que eu tenha o dom de ensinar, domine toda a ciência e nenhum mistério humano me seja desconhecido, se não tiver AMOR, sou como útero infértil que não transporta vida, que não gera vida.
Ainda que a minha fé seja grande, balbucie orações a fio noite e dia, se não tiver AMOR, sou como terra ressequida na qual a chuva não penetra e não fecunda.
Ainda que me despoje de tudo, distribua todos os meus bens materiais, troque a minha situação pela de um sem-abrigo, se não tiver AMOR, sou como um deserto sem oásis, uma estrela sem brilho, uma cidade sem homens.
Se eu não tiver AMOR, nada sou, de nada me aproveita.
O AMOR reveste-se de paciência constantemente e é atento ao que falta para poder servir.
O AMOR não dá espaço à inveja, não se julga superior e não se pavoneia.
O AMOR não age por interesse próprio, não viola os direitos dos outros.
O AMOR não se fecha na irritação e no ressentimento.
O AMOR não fica feliz com a injustiça, mas exulta de alegria com a verdade.
O AMOR perdoa tudo, suporta tudo, porque vive da fé e da esperança.
O AMOR é eterno, só o AMOR é perene.
Tudo o resto terá um fim, pois tudo o resto é imperfeito e tudo o que é imperfeito desaparecerá quando vier o que é Perfeito.
Depois, contemplaremos face a face. Ser-nos-á desvelado o que, já conhecendo, ainda não conhecíamos na plenitude.
Agora, temos que saber permanecer na fé, na esperança e no AMOR, sabendo o que é viver a intensidade do AMOR.
Hino à Caridade
Diz o Papa Bento em Deus Caritas est:
6. Concretamente, como se deve configurar este caminho de ascese e purificação? Como deve ser vivido o amor, para que se realize plenamente a sua promessa humana e divina? Uma primeira indicação importante, podemos encontrá-la no Cântico dos Cânticos, um dos livros do Antigo Testamento bem conhecido dos místicos. Segundo a interpretação hoje predominante, as poesias contidas neste livro são originalmente cânticos de amor, talvez previstos para uma festa israelita de núpcias, na qual deviam exaltar o amor conjugal. Neste contexto, é muito elucidativo o facto de, ao longo do livro, se encontrarem duas palavras distintas para designar o « amor ». Primeiro, aparece a palavra « dodim », um plural que exprime o amor ainda inseguro, numa situação de procura indeterminada. Depois, esta palavra é substituída por « ahabà », que, na versão grega do Antigo Testamento, é traduzida pelo termo de som semelhante « agape », que se tornou, como vimos, o termo característico para a concepção bíblica do amor. Em contraposição ao amor indeterminado e ainda em fase de procura, este vocábulo exprime a experiência do amor que agora se torna verdadeiramente descoberta do outro, superando assim o carácter egoísta que antes claramente prevalecia. Agora o amor torna-se cuidado do outro e pelo outro. Já não se busca a si próprio, não busca a imersão no inebriamento da felicidade; procura, ao invés, o bem do amado: torna-se renúncia, está disposto ao sacrifício, antes procura-o.
Mais à frente, explica como este amor a Deus e amor de Deus é também, por Jesus Cristo, amor ao próximo:
20. O amor do próximo, radicado no amor de Deus, é um dever antes de mais para cada um dos fiéis, mas é-o também para a comunidade eclesial inteira, e isto a todos os seus níveis: desde a comunidade local passando pela Igreja particular até à Igreja universal na sua globalidade. A Igreja também enquanto comunidade deve praticar o amor.
É neste sentido que eu considero ainda a tradução de ágape por “caridade” como a mais próxima. Pode ser uma palavra um pouco “gasta” nos nossos dias, talvez ultrapassada por termos como “solidariedade” ou “responsabilidade social”, mas pessoalmente vejo na palavra caridade uma grande força pelo que ela significa, se for levada a sério. É amor originado em Deus, é o próprio Deus, que nos leva ao amor do próximo, que nos obriga a sair de nós mesmos, porque é transcendente, e a olhar para o outro com o olhar de Jesus.
Por isso, correndo o risco de parecer escolher a saída mais fácil, não proponho uma nova tradução a ágape e sigo a tradicional opção CARIDADE.
quarta-feira, 14 de abril de 2010
O mistério: Ágape
Mateus |
Paulo |
Amor humano para com os outros homens | Caridade |
Carinho | Misericórdia |
Boa Vontade | Compaixão |
Generosidade | Afecto |
Complacência | Benevolência |
Proposta de tradução para a palavra αγάπη
“Eucaristia”, “Eucaristiar”, “Ser Eucaristia”
Uma possível tradução de 1Cor 13, 1-9
“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,se não for Eucaristia, sou como um bronze que soa
ou um címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom da profecia
e conheça todos os mistérios e toda a ciência,
ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas,
se não for Eucaristia, nada sou.
Ainda que eu distribua todos os meus bens
e entregue o meu corpo para ser queimado,
se não for Eucaristia, de nada me aproveita.
Ser Eucaristia é ser paciente,
Ser Eucaristia é ser prestável,
não é ser invejoso,
não é ser arrogante nem orgulhoso,
não procurar o seu próprio interesse,
não se irritar nem guardar ressentimento.
Não se alegrar com a injustiça,
mas rejubilar com a verdade.
tudo esperar, tudo suportar.
O Ser Eucaristia jamais passará.
As profecias terão o seu fim,
o dom das línguas terminará
e a ciência vai ser inútil.
Pois o nosso conhecimento é imperfeito
e também imperfeita é a nossa profecia.
Mas, quando vier o que é perfeito,
o que é imperfeito desaparecerá.
falava como criança,
pensava como criança,
raciocinava como criança.
Mas, quando me tornei homem,
deixei o que era próprio de criança.
Agora, vemos como num espelho,
de maneira confusa;
depois, veremos face a face.
Agora, conheço de modo imperfeito;
depois, conhecerei como sou conhecido.
Agora permanecem estas três coisas:
a fé, a esperança e o Ser Eucaristia;
mas a maior de todas é o Ser Eucaristia”
Outros textos do NT em que esta tradução oferece alguma coerência:
“Eu, porém, digo-vos: sêde Eucaristia para os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem…” Mt 5, 36
“Mas ai de vós, fariseus, que pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as plantas e descurais a justiça e Ser Eucaristia de Deus!” Lc 11, 42
“É por isto que meu Pai é Eucaristia para mim: por Eu oferecer a minha vida, para a retomar depois.” Jo 10, 17
“Antes da festa da Páscoa, Jesus, sabendo bem que tinha chegado a sua hora da passagem deste mundo para o Pai, Ele, que tinha sido Eucaristia para os seus que estavam no mundo, levou a sua Eucaristia por eles até ao extremo.” Jo 13, 1
“Ninguém do que quem dá a vida pelos seus amigos.” Jo 15, 13
“«Simão, filho de João, Tu és Eucaristia para mim?»” Jo 21, 16
(…)
Hino de Cor 13, 1
Na tradição sinóptica, o ponto central é colocado na proclamação do reino de Deus inaugurado com e em Jesus, e no novo comportamento que ele exige. Deus envia o Seu único, e amado Filho, cuja voz devemos escutar para chegarmos à salvação. Ora, o amor de Deus como razão de ser deste acontecimento é apenas expresso com a palavra agápe. Ora, a misericórdia e o amor de Deus manifestam-se aos homens na acção de Jesus (Cfr., Ibidem, p.113). Mesmo que o termo agápe não se encontre nos relatos da paixão, aparecem a misericórdia e o amor como vontade salvadora (Cfr., Ibidem, p.113).
Em São João o ser e o actuar de Deus são descritos com particular rigor com o termo agápe. Deus é essencialmente amor. Deus é amor (1 Jo 4, 8) e o seu desígnio é um desígnio de amor. Por isso, o Pai envia e entrega o Filho. Ora, neste sentido este amor significa para o homem salvação. A vontade fundamental de Deus, que se dirige ao mundo, é o seu amor compassivo e capaz de perdoar. No agápe manifesta-se ao mesmo tempo a dóxa Theoû (Cfr., Ibidem, p.116).
Assim, porque este amor de Deus, enquanto é um amor de eleição que tira o ser humano da ira (seu oposto radical), é um amor que se compadece e perdoa, fazendo do ser humano um amante, cuja fonte do seu amor é o próprio amor compassivo de Deus, pensamos que a tradução do termo agápe por compaixão traduz esta acção gratuita e salvífica de Deus, a que chamamos amor, que está presente no Novo Testamento (Sinópticos, São João, São Paulo) e é expressa pelo termo grego agápe.
Proposta de tradução para «agapê»
Situado entre dois capítulos que privilegiam a referência aos dons e carismas que brotam do Espírito e que são constitutivos da própria realidade eclesial, neste capítulo 13 podemos ver como elaborar um hino à graça de Deus, ao Espírito Santo, poderá ser uma estratégia bem delineada por S. Paulo, que faz depender de Deus toda a realidade humana e sobretudo eclesial.
Interpretação do cântico do amor
Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,
se não tiver amor(liberdade/gratuidade), sou como um bronze que soa
ou um címbalo que retine.
Neste versículo nos é apresentada a palavra amor (ágape), segundo a tradução da Difusora Bíblica. Porém se olharmos para a Bíblia de Jerusalém a palavra que nos aparece em lugar de amor é a caridade. Isto leva-nos a perceber que ambas as palavras procuram traduzir a existência Cristã. Podemos dizer que as exortações práticas de Paulo para traduzir activamente a experiência cristã partem do amor/caridade e nele se concentram, pois a tríade Paulina centra-se na fé, amor/caridade e esperança. Contudo podemos dar uma outra interpretação ou tradução para reler este cântico do amor. Um dos traços distintivos da espiritualidade segundo Paulo é a liberdade e a gratuidade. Deste modo leva-nos a introduzir a palavra liberdade em vez de amor neste hino, no sentido que a liberdade cristã é o estatuto original dos crentes baptizados em Jesus Cristo. Contudo trata-se de uma dupla liberdade: do ponto de vista negativo, onde os cristãos são libertados do demónio do pecado, que se manifesta como egoísmo desordenado, agressivo e rebelde centrado nas "obras da carne”; e a liberdade positiva, dada pelo Espírito Santo, de um recíproco e sincero, donde deriva a atitude constante em viver relações de solidariedade gratuita e de serviço mútuo. Quanto à gratuidade O próprio São Paulo alerta à comunidade de Corinto que dêem a sua própria contribuição para os pobres de Jerusalém “Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza”. (2Cor 8,9). Neste sentido apraz-nos dizer que a palavra liberdade e gratuidade inspiram as intrusões práticas ditadas por Paulo, para concretizar a existência cristã nos vários âmbitos e enquadram bem no contexto deste hino.
CÂNTICO DO AMOR
Dar a vida
Optar por descer à morte e à noite
Desejar crucificar-se na claridade da cruz
Desejar esvaziar-se de si
Vibrar com o olhar de Deus
Sentir a felicidade de dizer – Jesus
Experimentar o fio da unidade interior
Agir numa liberdade confiante
Saber-se cristificado
1 COR 13,1: UMA INTERPRETAÇÃO
A tradução por amor da palavra grega agápen não levanta problema. Poderia traduzir-se por caridade como prefere a Bíblia de Jerusalém, ou por amor como o fazem a Bíblia da Difusora Bíblica e, também, a de Ferreira de Almeida.
Portanto, importa saber que significado atribuir aqui à palavra amor.
Penso que a resposta, uma resposta, poderemos encontrá-la no próprio hino, mais adiante: o amor jamais passará; permanecem hoje a fé a esperança e o amor; mas a maior de todas é o amor (vs. 8 e 13). É que amor é aquilo mesmo que Deus é. Por isso Bento XVI escreveu: «Deus caritas est».
E, então, em 1 Cor 13,1 também poderemos ler: se eu não tiver Deus, isto é, se eu não acreditar… o que eu disser não passará de meros sons.
1Cor 13
A meu ver acho que a palavra Bem-aventurado (Grego: Makárioi), ou até Puro de Coração(Kataroi te Kardia)que São Mateus usa no discurso das Bem-aventuranças (Mt 5, 8)são adequadas para exprimir o que São Paulo quer exprimir em 1Cor 13.
Hino ao Amor
Esta parece ser uma boa palavra para este belo trecho da Sagrada Escritura. Contudo, quanto a mim, não há nada como sentir o sopro das palavras Caridade ou Amor aquando da leitura deste escrito paulino.
uma proposta de tradução...
Cristo
- Cristo é em Si a totalidade, a oblacção perfeita. Penso que S. Paulo diz aos Coríntios que se for Cristo para eles, então será tudo em todos e aí será essa doacção, caridade, purificador dos afectos...
Tres colores: Azul - Song for the unification of Europe
Hino a caridade em Português
13 Cântico do amor - 1Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,
se não tiver amor, sou como um bronze que soa
ou um címbalo que retine.
2Ainda que eu tenha o dom da profecia
e conheça todos os mistérios e toda a ciência,
ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas,
se não tiver amor, nada sou.
3Ainda que eu distribua todos os meus bens
e entregue o meu corpo para ser queimado,
se não tiver amor, de nada me aproveita.
4O amor é paciente,
o amor é prestável,
não é invejoso,
não é arrogante nem orgulhoso,
5nada faz de inconveniente,
não procura o seu próprio interesse,
não se irrita nem guarda ressentimento.
6Não se alegra com a injustiça,
mas rejubila com a verdade.
7Tudo desculpa, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta.
8O amor jamais passará.
As profecias terão o seu fim,
o dom das línguas terminará
e a ciência vai ser inútil.
9Pois o nosso conhecimento é imperfeito
e também imperfeita é a nossa profecia.
10Mas, quando vier o que é perfeito,
o que é imperfeito desaparecerá.
11Quando eu era criança,
falava como criança,
pensava como criança,
raciocinava como criança.
Mas, quando me tornei homem,
deixei o que era próprio de criança.
12Agora, vemos como num espelho,
de maneira confusa;
depois, veremos face a face.
Agora, conheço de modo imperfeito;
depois, conhecerei como sou conhecido.
13Agora permanecem estas três coisas:
a fé, a esperança e o amor;
mas a maior de todas é o amor.
(Bíblia dos capuchinhos)
terça-feira, 13 de abril de 2010
CRISTOFÂNIA A PAULO
por volta do meio-dia, uma intensa luz, vinda do Céu,
me rodeou com a sua claridade.
Caí por terra e ouvi uma voz que me dizia:
"Saulo, Saulo, por que me persegues?"
Respondi: "Quem és Tu, Senhor?" Ele disse-me,
então: "Eu sou Jesus de Nazaré, a quem tu persegues."
(Actos 22.6-8)
terça-feira, 6 de abril de 2010
Paulo "comunicador"
Evangelizar é "comunicar". Paulo é o apóstolo que não se cansou de proclamar a "boa notícia" de Jesus Cristo. É assim que ele inicia a carta aos Romanos: "De Paulo, servo de Jesus Messias, chamado a ser apóstolo, reservado para anunciar a boa notícia de Deus..." (Rm 1,1.) Paulo não mediu esforços em seu trabalho de evangelização. Além de manter-se em contínua comunicação com os que estavam ao seu lado, buscou todos os recursos técnicos de comunicação disponíveis da época para fazer o Evangelho chegar aos que estavam distantes. Soube buscar o equilíbrio entre a comunicação interpessoal e a indirecta, por meio de suas cartas, com um só objetivo: chegar a todos com a Palavra de Deus.
Um emissor com mensagem clara:
A comunicação é um processo do qual faz parte o emissor que transmite uma mensagem. Ao descrever o apóstolo Paulo, do ponto de vista da comunicação, podemos afirmar que ele tem clara sua mensagem. Sabe o que deseja anunciar. Paulo tem um conteúdo que nasce, não só de sua formação intelectual, mas principalmente de sua experiência de vida.
Educado na mais perfeita tradição judaica, Paulo trazia consigo uma bagagem cultural que incluíam um conhecimento profundo das tradições do judaísmo e noções das filosofias e religiões gregas de seu tempo. Porém, a experiência que fez na estrada de Damasco, conhecida comummente como "conversão", marcou profundamente sua vida, mais do que todos os estudos e práticas religiosas.
No caminho de Damasco, o perseguidor ferrenho dos cristãos tem um encontro inusitado que o faz cair por terra. Encontra-se com Jesus Cristo, o mesmo que ele perseguia na pessoa dos cristãos. Ananias, que o acolhe depois dessa experiência, tem uma visão na qual o Senhor afirma: "esse homem é um instrumento que eu escolhi para anunciar o meu nome aos pagãos, aos reis e ao povo de Israel" (At 9,15).
Paulo, em pessoa, torna-se um "instrumento de comunicação" da boa-notícia, que tempos depois o faz reconhecer: "agradeço àquele que me deu força, a Jesus Cristo nosso Senhor, que me considerou digno de confiança, tomando-me para o seu serviço, apesar de eu ter sido um blasfemo, perseguidor e insolente" (1Tm 1,12-13).
Da conversão de Paulo nasce a missão cujo fundamento está numa convicção. "Sei em quem depositei a minha fé", escreve a Timóteo (2Tm 1,12). Tem consciência de que o evangelho, que comunica com tanta paixão a todos os povos, chegou a ele por meio de uma revelação que transformou totalmente sua vida. O que move a comunicação de Paulo é a fé em Jesus Cristo, a ponto de dizer: "Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim. E esta vida que agora vivo, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim" (Gl 2,20).