segunda-feira, 24 de maio de 2010

CARTA AOS FILIPENSES

A. 2,6-11

Um hino Cristológico. A quenose, o despojamento de Cristo. De condição divina desceu à condição humana, em tudo se fazendo igual a nós, excedendo-se na obediência até se entregar à morte e morte de cruz.
Por isso Deus o elevou acima de tudo e de todos: Jesus Cristo é o Senhor para Glória de Deus Pai.
Jesus Cristo é modelo para o Cristão. Modelo inimitável e inalcançável, seguramente: mas mesmo assim modelo. O cristão deve fazer-se imitador do Senhor (1Tl 1,6). E este hino surge aqui para mostrar o percurso que o cristão deve fazer (2,1-5); o cristão deve repetir na sua vida o drama de Jesus.

B. 3,4-11

E é isso mesmo que Paulo faz. Esta sua apologia revela que ele, Paulo, de tudo quanto era antes se desfez por amor a Cristo: «[…] tudo perdi e considero esterco, a fim de ganhar a Cristo […]» (Fl 3,8). Também ele, Paulo, tinha méritos que lhe advinham de sua estirpe, do seu estatuto face aos do seu povo. Mas se antes teve isso por ganho, agora o considera perda por causa de Cristo. É Paulo a despojar-se do que fora para seguir outro modelo, o modelo de Cristo; a fazer-se imitador de Cristo.

C. ainda 2,6-11

Qual a origem deste hino?
Será Paulo o seu autor?
Uns vêem nele um fundo gnóstico e teria por base o mito do redentor redimido; outros vêem aqui a figura de Adão, o modelo adâmico para ser suplantado por Cristo que se rebaixou e foi exaltado enquanto aquele quis exaltar-se e foi rebaixado; outros ainda vêem aqui influência Joânica, uma aproximação à teologia de João com referência, nomeadamente, a Jo 13,3-17 (lava-pés).
Parece, em rigor, que nenhuma destas possibilidades – embora a primeira seja menos provável – é incompatível com a autoria de Paulo que, aqui como seguramente noutros passos das suas cartas, esteve sujeito a influências.
Deixo notícia de uma outra possibilidade: «Nos cânticos do Servo de Isaías devemos procurar a fonte mais próxima de inspiração da ode. O que vem a ser Cristo, obediente e humilhado, depois exaltado, senão a aventura misteriosa do “Servo de Deus”, cuja carreira descreve o profeta?» (Lucien Cerfaux, Cristo na Teologia de Paulo, Editora Teológica, 2ª edição, S. Paulo, 2003, pag. 294).


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