segunda-feira, 24 de maio de 2010

Gl 4,6 e Rm 8,15: ABBÁ, UMA "IPSISSIMA VOX" DE JESUS

Joachim Jeremias, na sua obra A mensagem central do Novo Testamento, Edições Paulinas, S. Paulo, 1986, 3ª edição, pags. 11-35, defende e fundamenta a tese de que «[… Abbá como invocação de Deus é uma ipsissima vox, uma expressão autêntica e original de Jesus, e que este Abbá explica a reivindicação de uma revelação e autoridade únicas […]» (pag. 35). E, com isto, Jeremias afirma desacreditar aqueles que dizem que não conhecemos senão o Cristo do querigma. E continua Jeremias: «Aí descobrimos quem era o Jesus histórico: o homem que tinha o poder de se dirigir a Deus como Abbá, e que fez publicanos e pecadores entrarem no reino, simplesmente os autorizando a repetir esta palavra “Abbá, Pai querido”» (pag. 35).
Abbá é palavra aramaica. E Jesus usava-a para se dirigir a Deus como a Seu Pai, como claramente se prova por Mc 14,35: «E dizia: «Abbá, Pai, tudo te é possível; afasta de mim este cálice! […]»
Ora, no conjunto do Novo Testamento, Abbá só aparece neste passo de Marcos e em duas cartas de Paulo: Gl e Rm. Gl 4,6: «E porque sois filhos Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: “Abbá! – Pai”». Rm 8,15: «Vós não recebestes um Espírito que vos escravize e volte a encher-vos de medo; mas recebestes um Espírito que faz de vós filhos adoptivos. É por Ele que clamamos: Abbá, ó Pai!».
Ora, Jeremias considera que estas passagens constituem em si, também, uma prova de que Jesus dizia Abbá quando rezava e são, portanto, prova acerca do Jesus histórico. «Elas (as passagens) nos informam que as comunidades cristãs diziam “Abbá, ho pater” […] e tinham-no como expressão produzida pelo Espírito Santo. Aplica-se tanto às comunidades paulinas (Gálatas) como às não-paulinas (Romanos), e não há dúvida de que esta invocação seja um eco das próprias orações de Jesus» (pag. 21).


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