No texto de Flp 2, 6-11, encontramo-nos perante um dos mais belos hinos cristológicos do NT. Por outra parte, em Flp 3, 4-11, Paulo faz uma breve resenha autobiográfica, a propósito de 'méritos humanos', pondo em destaque o seu curriculum irrepreensível de judeu piedoso e zeloso.
À primeira vista, pode parecer que um e outro texto têm poucos pontos de contacto. Mas, à luz de uma leitura mais atenta, constata-se que existe um forte elo de ligação entre os dois textos, a tal ponto que as citadas passagens deverão ser lidas em paralelo.
Com efeito, assim como Jesus Cristo, em cumprimento de um acto de desprendimento amoroso total pela humanidade - por parte de Deus -, assumiu a condição de servo, sendo Ele, na verdade, de condição divina; assim também Paulo trocou tudo - desde logo todos os títulos que o confirmavam como um judeu fiel: 'circuncidado ao oitavo dia'; 'da tribo de Benjamim'; 'um hebreu'; mais ainda, 'um fariseu' - por amor Àquele Cristo ressuscitado que se lhe revelou no caminho de Damasco.
Jesus Cristo 'esvaziou-se' ('ekénôsen') para incarnar na história humana e levar por diante o projecto salvífico de Deus, obedecendo até à morte e morte de cruz. Paulo também como que se 'esvazia' de todos os seus títulos e da sua própria justiça, que provinha da lei mosaica, para viver somente da fé em Cristo.
Tudo o que antes Paulo considerava uma mais-valia, um 'ganho', a partir da sua experiência com Cristo ressuscitado, dramaticamente, passa a ser pura e simplesmente irrelevante. De repente, não há mais que um objectivo: Paulo quer configurar-se totalmente com o exemplo de humildade e desconcerto (humano) dado por Cristo, e assim viver, e assim morrer, e assim ressuscitar com Ele.
quarta-feira, 5 de maio de 2010
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