Fil 2, 6-11
6Ele, que é de condição divina,não considerou como uma usurpação ser igual a Deus; 7no entanto, esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo. Tornando-se semelhante aos homens e sendo, ao manifestar-se, identificado como homem, 8rebaixou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. 9Por isso mesmo é que Deus o elevou acima de tudo e lhe concedeu o nome que está acima de todo o nome, 10para que, ao nome de Jesus, se dobrem todos os joelhos, os dos seres que estão no céu, na terra e debaixo da terra; 11 e toda a língua proclame: "Jesus Cristo é o Senhor!", para glória de Deus Pai.
Fil 3, 4-11
4ainda que eu tenha razões para, também eu, pôr a confiança precisamente nos méritos humanos. Se qualquer outro julga poder confiar nesses méritos, eu posso muito mais: 5circuncidado ao oitavo dia, sou da raça de Israel, da tribo de Benjamim, um hebreu descendente de hebreus; no que toca à Lei, fui fariseu; 6no que toca ao zelo, perseguidor da Igreja; no que toca à justiça - a que se procura na lei - irrepreensível. 7Mas, tudo quanto para mim era ganho, isso mesmo considerei perda por causa de Cristo. 8Sim, considero que tudo isso foi mesmo uma perda, por causa da maravilha que é o conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor: por causa dele, tudo perdi e considero esterco, a fim de ganhar a Cristo 9e nele ser achado, não com a minha própria justiça, a que vem da Lei, mas com a que vem pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus e que se apoia na fé. 10Assim posso conhecê-lo a Ele, na força da sua ressurreição e na comunhão com os seus sofrimentos, conformando-me com Ele na morte, 11para ver se atinjo a ressurreição de entre os mortos.
O trabalho pedido numa aula (já longínqua…) era relacionar estas duas passagens da Carta aos Filipenses.
São dois maravilhosos textos de São Paulo, que contrapõem duas situações: a glória e o rebaixamento. E como essas duas realidades, em Cristo, têm entre si um nexo indispensável. Temos duas figuras em paralelo: no primeiro, Jesus Cristo, no segundo, São Paulo. E Paulo vai servir-se precisamente dessa ligação para legitimar a sua acção. De facto, a vida do verdadeiro cristão só pode ter como modelo Jesus Cristo. Só à luz dele o homem se compreende. ~
Como afirma a Gaudium et Spes “Na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente” (nº 22). Se de Jesus Cristo, Paulo afirma que não se valeu da sua igualdade com Deus, de si próprio Paulo afirma não se valer dos seus méritos (o facto de ser um judeu exemplar). Em Jesus Cristo assistimos a um abaixamento até à condição humana e, aí, até à morte de cruz. Já São Paulo afirma de si que, por causa de Cristo, considera tudo o que tinha e era como esterco, uma vez que perante o conhecimento de Cristo, nada mais, por melhor que seja, se pode igualar a Jesus Cristo.
No capítulo 9 vai mais uma vez apresentar a sua tese da justificação pela fé em Jesus Cristo e não pela Lei. Paulo é o advogado da universalidade do cristianismo, realidade que não distingue os que vêm do judaísmo ou do paganismo, mas que a todos acolhe. Como afirmará Paulo na Carta aos Romanos: “É que em Deus não existe acepção de pessoas” (2,11).
Por fim, é importante notar como é central no pensamento paulino a referência ao Jesus crucificado, morto, que é o Senhor Ressuscitado. Isso é evidente no Hino cristológico e não deixa de o ser em Fil 3, 10-11. De facto, Paulo quer imitar Jesus; melhor, quer-se conformar à sua imagem, naquilo que são os sofrimentos e a morte, para assim alcançar a Ressurreição. O verdadeiro conhecimento de Jesus é o deixar-se converter por Cristo, “viver em Cristo” na experiência concreta da vida.
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