terça-feira, 15 de junho de 2010

Mística em São Paulo

Neste pequeno post acompanhamos um pouco o pensamento de A. Achweitzer e de alguns conteúdos da exposição das aulas.

Realmente a mística em São Paulo parece ser um tema reavivado por alguns autores ultimamente pois torna-se um tema fundamental no conhecimento de Paulo e na aproximação às primeiras comunidades cristãs.

Resumidamente poderíamos dizer que a antropologia paulina define o Homem como aquele que é encontrado por Cristo, reencontrando-se a si mesmo. Este que é um processo vital e gradual. Aqui será portanto um dos pontos de partida para uma positiva resposta positiva à pergunta moderna: “podemos encontrar um Paulo místico?”.

A. Achweitzer foi realmente um autor de grande importância neste sentido ao reavivar o “Paulo dos milagres”, “mestre de caminhos espirituais” e de “vida contemplativa”. Paulo será então um alquimista que mistura o seu discurso retórico com uma mística subtil mas profunda. Realmente Paulo é um místico na medida em que continuamente concretiza a presença contínua do divino.

O cristianismo paulino “democratiza-se” fazendo-se imprescindível a mística, começando logo pela radicalidade do “ser enxertado” em Cristo pelo Baptismo.

Alguns exemplos são necessários aqui. Desde logo a revelação no caminho de Damasco (cf. Gal 1, 15 e 1Cor 9, 1) foi provavelmente a experiência mística mais poderosa tida por Paulo, sendo que esta nunca mais terminou mas se prolongou em toda a sua vida. Os relatos que Paulo nos faz desta cristofãnia são diferentes dos que encontramos em Actos (Act 9, 1-25; 22, 1-21; 26, 1-23), em Gálatas, por exemplo, é uma experiência mística na interioridade.

Por outro lado Paulo fala do dom das línguas que ele mesmo tem: significará a partir de uma grelha mística a possibilidade de compreender transmitir o rumor da presença de Deus de forma mais universal. Claro que Paulo não se centra neste dom como a sua razão de evangelizar, mas é um dos instrumentos importantes.

Porém, sem dúvida o grande centro da mística Paulina é o ser em Cristo (ἐν Χριστῷ). Cristo que pela condição Baptismal é o alicerce de toda a comunidade, sendo a cabeça de um corpo de cristãos unidos pela graça de Deus. Esta presença de Cristo é portanto uma presença de reciprocidade na medida em que é sempre uma presença fundadora.

Esta mística do ser em Cristo justifica-se porque Ele é a verdadeira imagem de Deus. Ele que se deve formar em cada Cristão (cf. Gal 4, 19). O mimetismo de Cristo pelos cristãos é então a meta santa cujos frutos da corrida se manifestam ao longo do percurso. A mística de Paulo pelo chamada ao ἐν Χριστῷ é uma invasão da história.

Concluindo com um último ponto: este Paulo místico tinha como meta sem dúvida o conhecimento da profundidade de Deus. Esta meta para a qual Paulo correu no sentido de chegar primeiro como a correr num estádio – chegar primeiro ladeado dos “santos”, todos a chegar em primeiro lugar. Estamos aqui perante uma democratização da mística, embora esta conheça uma gradualidade (profundidade). O Deus procurado na história pelo Homem é Cristo, o Senhor.

Fontes:

Aulas e SCHWEITZER, Albert, The mysticism of Paul the apostle. NewYork, Seabury Press, 1968.

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