sábado, 12 de junho de 2010

O pior momento da vida de um ateu é quando este se sente realmente agradecido e não tem ninguém a quem agradecer

S. Paulo começa quase todas as suas cartas com uma acção de graças e de louvor. Dizem os estudiosos que esta parte introdutória das cartas é uma captatio benevolentia, serve para dispor o auditório a acolher com benevolência a mensagem. Esta forma de captar o afecto das pessoas louvando e agradecendo a Deus em vez de as louvar e agradecer a elas, é algo que só funciona entre pessoas que conheçam a origem dos seus dons e do amor que as une.
O facto de uma professora de yoga, no fim das suas aulas, dizer: “agradece-te a ti próprio por teres vindo à aula. Agradece ao teu corpo o que ele é capaz de fazer.” mostra que aparentemente não é óbvio que o agradecimento exprima uma relação de dívida que se estabeleça com um outro diferente de si mesmo.
Com efeito, como diz Dante Gabriel Rossetti, o pior momento da vida de um ateu é quando este se sente realmente agradecido e não tem ninguém a quem agradecer. Porque com os sentimentos de revolta, de injustiça, de arbitrariedade é sempre fácil apontar o dedo a alguém. Mas quando nos sentimos profundamente agradecidos, a quem é que podemos agradecer?
É realmente muito triste não saber a quem agradecer ou tentar agradecer a uma entidade qualquer abstracta como o destino, a vida, o acaso ou ao seu próprio eu.
No fim deste curso, além de a Quem de direito, queria agradecer ao meu Gamaliel.

Sem comentários:

Enviar um comentário